sábado, 7 de março de 2015

Religião e Repressão

Neste clássico de Rubem Alves, o propósito, do próprio autor, é fazer uma análise do protestantismo e descrever sobre o universo protestante. Com base no PRD (Protestantismo da Reta Doutrina), Rubem Alves expõe suas análises e opiniões de forma bem crítica e, muitas vezes, com palavras "fortes". Porém a leitura é interessante e atraente em diversos pontos. Rubem Alves aborda questões doutrinárias e opina sobre temas relacionados à religião e Igreja. Religião e Repressão é um livro que abre a mente do leitor e o faz pensar de forma madura e crítica.
Na esperança de sermos cristãos livres (fora das gaiolas), segue, abaixo, algumas boas frases que serão capazes de esclarecer, um pouco, a forma de pensar do autor: 


"Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso amar o vazio. Porque o voo só acontece se houver o vazio. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram. É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que se as portas da gaiola estivessem abertas eles voariam. A verdade é o oposto. Os homens preferem as gaiolas ao voo. São eles mesmos que constroem as gaiolas onde passarão as suas vidas." (pág. 9)


"Deus dá a nostalgia pelo voo. As religiões constroem as gaiolas. Quando o voo se transforma em gaiolas, isso é idolatria." (pág. 9) 

"Escrevo porque creio, a despeito de quaisquer argumentos em contrário, que a linguagem e o pensamento também sustentam o mundo e que, portanto, pela transformação da linguagem e do pensamento algo está sendo feito para que o mundo se transforme. (pág. 31)

"É necessário notar que qualquer que tenha sido o espírito e a função do protestantismo no passado, nada nos autoriza a usar o passado como modelo do presente." (pág. 48)

"O Deus sobre quem Lutero fala é o símbolo da liberdade de todas as imposições legais que a religião e a sociedade impõem . Fé é liberdade da lei. Aquele que se submete é aquele que ainda não compreendeu o Evangelho." (pág. 49)

"O homem não é um ser subordinado a uma lei. O homem é um ser perante Deus, e Deus é essencialmente graça, liberdade." (pág. 50)

"Não é o meu fazer que determina o meu ser. O meu ser é que determina o meu fazer. Não me torno culpado; sou culpado. Ao afirmar que o homem é pecador e, portanto, culpado, o protestantismo está fazendo uma afirmação antropológica. Ele define a essência do homem." (pág. 81)

"Na conversão importa que foi Jesus Cristo e não o que ensinou Jesus Cristo." (pág. 85)

"O primeiro Adão pecou, todos os homens pecaram. O segundo Adão, Cristo, foi perfeitamente justo, por isso meu destino está misticamente ligado ao seu destino." (pág. 91)   

"Os homens têm tentado, de várias maneiras, transformar o mundo. A questão, porém, não é transforma-lo, mas reinterpreta-lo." (pág 93)

"A conversão é o início do processo de reinterpretação." (pág. 93)

"Onde quer que encontramos a fé, aí encontramos a busca de inteligibilidade. E, inversamente, onde quer que encontremos a razão, encontramos também uma experiência emocional sobre a qual tal racionalidade se assenta." (pág. 103)

"Na experiência fundadora da conversão combinam-se a fé e a dúvida." (pág. 105)

"A experiência não é o critério do meu pensar. Ao contrário, o meu pensar se constitui no critério de todas as experiências possíveis." (pág. 113)

"Se a experiência não é iluminada pela autoridade, esqueça-se da experiência. Se a vida não se torna mais inteligível pela leitura das Escrituras, abandone-se o ideal de inteligibilidade. Se os fatos resistem ao texto, que os fatos sejam abolidos." (pág. 124)

"Saber viver é saber morrer, porque a morte não é o fim, mas o momento de verdade. A morte é o nascimento da eternidade e a cristalização do caminho trilhado no tempo." (pág. 165)

"Somente os olhos da fé dispõem da chave hermenêutica que lhes possibilita a leitura dos eventos." (pág. 187)

"É necessário eliminar a visibilidade do visível, para se contemplar o invisível face a face." (pág. 188)

"É necessário, portanto, que o meu corpo esteja sempre, de forma total e absoluta, numa relação de submissão e disponibilidade, diante daquele que é o seu dono, Deus." (pág. 229)

"Verdade é a palavra que cria a bondade. Verdade é a palavra que serve a vida e o amor." (pág. 233)

"O que é decisivo não é o mal de que devemos nos abster, a zona proibida onde nos é vedado entrar. Importa o bem a ser realizado. Jesus comanda o bem. E é o bem positivo, objetivado na ação de amor, e não o mal que deixamos de fazer, que caracteriza os filhos do Reino." (pág. 254)

"Sei quem sou quando sei contra quem me oponho. Ao me afirmar estou implicitamente negando tudo aquilo que me nega e que me ameaça de dissolução. Identidade pressupõe conflito. E, inversamente, conflito gera identidade." (pág. 285)

"Não é a fé nas Escrituras que define o cristão, mas sua fé no Cristo." (pág. 310)

"O Evangelho não é uma série de verdades que a consciência deve afirmar sem vacilações e sem concessões, mas antes um estilo de vida que se caracteriza pelo amor e pelo serviço." (pág. 329)