quarta-feira, 16 de julho de 2014

Confissões- Parte I

Hoje venho escrever sobre a primeira parte do livro "Confissões" de Agostinho. Neste clássico, encontramos um ser humano que reconhece sua pecaminosidade e sendo assim, se humilha e se prostra constantemente diante da grandeza e misericórdia de Deus, exaltando, assim, o Seu amor e bondade para com ele ao longo da sua vida. Nesta primeira parte do livro encontramos o relato da sua infância, as confissões dos pecados na adolescência, o caminhar de estudos, suas experiências de vida em Roma e Milão, seu relacionamento com seus amigos(principalmente com sua mãe), a caminhada que o levou à Deus, a história de sua conversão e seu batismo. São nove os livros que nos apresentam um homem, desde sua infância, que busca conhecer a si próprio e conhecer ou entender Deus. Com o desenvolver da leitura encontramos um homem arrependido e de coração quebrantado. Um homem que foi moldado no seu viver e teve um encontro sublime com Deus. Essa é uma leitura que nos desperta à libertação do eu e nos leva à um relacionamento genuíno com Deus; sem contar que é um testemunho e todo testemunho nos ensina sobre a Verdade e o poder que Ela tem de transformar vidas. Quero destacar um pouco das experiências de Agostinho nas seguintes frases:

LIVRO I- A INFÂNCIA:

"Será, talvez, pelo fato de nada do que existe poder existir em Vós, que todas as coisas Vos contém? E assim, se existo, que motivo pode haver para Vos pedir que venhais a mim, já que não existiria se em mim não habitásseis?"

"Amais sem paixão; ardeis em zelos sem desassossego; Vos arrependeis sem ato doloroso; Vos irais e estais calmo; mudai as obras, mas não mudais de resolução; recebeis o que encontrais, sem nunca o ter pedido."

"Quem me dera repousar em Vós! Quem me dera que viésseis ao meu coração e inebriásseis com a Vossa presença, para me aquecer de meus males e me abraçar convosco, meu único bem!"

"... de Vós, Senhor, me acorrem todos os bens e toda a salvação."

"Disto ressalta com evidência que, para aprender, é mais eficaz uma curiosidade espontânea do que um constrangimento ameaçador."

"Fazei que Vossa doçura supere todas as seduções que eu seguia. Que eu Vos ame arrebatadamente e abrace a Vossa mão com toda a minha alma para que me livreis de todas as tentações até o fim."

"Eu pecava, porque em vez de procurar em Deus os prazeres, as grandezas e as verdades, procurava-os nas suas criaturas: em mim e nos outros. Por isso, precipitava-me na dor, na confusão e no erro."

LIVRO II- PECADOS DA ADOLESCÊNCIA:

"Graças Vos sejam dadas pelos dons que me concedestes. Conservai-os para mim. Assim me haveis de conservar. Também aumentareis e aperfeiçoareis os Vossos dons, e eu estarei convosco, pois se existo, Vós me destes a existência."

"Afastava-me para mais longe de Vós, e fazíeis vista grossa. Arrojava-me, derramava-me, espalhava-me e fervia em minhas devassidões, e Vós em silêncio! Ó Alegria que tão tarde encontrei! Vós calado, e eu a afastar-me cada vez mais de Vós, buscando, constantemente, estéreis sementes de dores, com aviltante soberba e desinquieto cansaço!"

"A Vossa onipotência está perto de nós, ainda quando erramos longe de Vós."

"Que coisa mais próxima de Vossos ouvidos do que um coração arrependido e uma vida de fé?"

"A vida deste mundo seduz por causa de uma certa medida de beleza que lhe é própria, e da harmonia que tem com todas as formosuras terrenas. A amizade dos homens torna-se doce, por unificar, com um laço querido, muitas almas."

"... não há lugar para onde nos possamos afastar totalmente de Vós."

"Atribuo à Vossa graça e à Vossa misericórdia o me terdes dissolvido, como gelo, os pecados. À Vossa graça devo também o ter fugido do mal que não pratiquei. Oh! de que não era eu capaz, se até amei, sem recompensa, o pecado?!"

LIVRO III- OS ESTUDOS:

"Mas ao sofrimento próprio chamamos ordinariamente desgraça, e à comparticipação das dores alheias, compaixão."

"Meu Deus, a Vós o confesso, a Vós que de mim Vos compadecestes quando ainda não Vos conhecia, quando Vos buscava não segundo a compreensão da inteligência, mas segundo o raciocínio da carne."

"Assim, afastava-me da verdade com a aparência de caminhar para ela, porque não sabia que o mal é apenas a privação do bem, privação cujo último termo é o nada."

"A própria iniquidade se engana a si mesma, corrompendo-se e pervertendo-se na sua natureza, feita e ordenada por Vós, quer servindo-se imoderadamente das coisas que lhe são lícitas quer ardendo na concupiscência do ilícito, no uso daquilo que é contra a natureza."

"Felizes aqueles que sabem o que Vós lhes preceituastes."

LIVRO IV- O PROFESSOR:

"Com efeito só há verdadeira amizade, quando sois Vós quem enlaça os que Vos estão unidos pela caridade difundida em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado."

"Que homem haverá, um só que seja, que possa enumerar os Vossos louvores, ainda dos que só em si experimentou?" 


"Se não chorarmos a Vossos ouvidos, nada restará da nossa esperança."

"... desgraçada é toda a alma presa pelo amor às coisas mortais. Despedaça-se quando as perde e então sente a miséria que o torna miserável, ainda antes de as perder."

"Por que andar de contínuo por caminhos difíceis e trabalhosos? Não há descanso onde procurais. Procurais a vida feliz, onde nem sequer vida existe?"

"Fazei, ó Senhor, que voltemos já para Vós para não submergirmos, porque o nosso bem, que sois Vós mesmo, vive, sem deficiência alguma, em Vós. Apesar de termos caído do nosso bem, não temos receio de não o encontrar quando voltarmos; porque, em nossa ausência, não desaba nossa morada - a Vossa eternidade."

LIVRO V- EM ROMA E EM MILÃO:

"Só Vos avizinhais dos corações contritos. Não sois encontrado pelos soberbos ainda que murmurem com hábil perícia as estrelas e as areias, ainda que meçam as regiões siderais e investiguem o curso dos astros."

"A sabedoria e a ignorância são como os alimentos úteis ou nocivos. Podem-nos ser apresentados com palavras polidas ou com rudeza de forma, como os bons e maus alimentos nos podem ser servidos em pratos finos ou grosseiros."

LIVRO VI- ENTRE AMIGOS:

"A letra mata e o espírito vivifica."

"Costuma suceder ao doente que consultou um médico desprestigiado, ter depois receio de um médico bom. Assim acontecia à saúde da minha alma, que não podia curar-se, senão crendo. Porque temia crer o que era falso, recusava deixar-se curar, resistindo às Vossas mãos, ó Divino Médico que fabricastes o remédio da Fé e o derramastes em todas as enfermidades do mundo, dando-lhe a ela tão grande autoridade!"

"... ao julgar uma causa, o homem não deve condenar o outro com facilidade e crueldade temerária."

"Assim imerso no vício e cego, não podia pensar na luz da Virtude e da Beleza que os olhos da carne não veem, e só o íntimo da alma distingue."

"Louvor e glória a Vós, ó Fonte das Misericórdias! Eu tornando-me mais desgraçado, e Vós, cada vez mais pertinho de mim! Sem eu saber, Vossa mão direita que me havia de arrancar da lama e lavar-me, estava mesmo junto de mim. Só o temor da morte e do Vosso futuro juízo, que através das várias doutinas, nunca se retirou do meu peito, me convidava a sair do abismo tão profundo dos prazeres carnais."

"Ai da alma audaciosa que se afastou de Vós, na esperança de possuir algum bem melhor. Quer se vire ou revire para trás, quer se volte para os lados ou para diante, tudo lhe é duro. Só Vós sois o descanso. Só Vós nos assistis e libertais de erros deploráveis, metendo-nos no Vosso Caminho, consolando-nos e dizendo: Correi; eu guiar-vos-ei, conduzindo-vos até o fim, e aí vos hei de manter."

LIVRO VII- A CAMINHO DE DEUS:
 

"Não podeis ser obrigado, por força, seja ao que for, porque em Vós a vontade não é maior do que o poder. Porém, seria maior, se Vós mesmo fôsseis maior que Vós mesmo. Mas a vontade e o poder de Deus são o próprio Deus. Para Vós que tudo conheceis, existe acaso alguma coisa imprevista? Nenhuma natureza existe, senão porque a conhecestes. Para que proferimos nós tantas palavras a fim de comprovar que a substância de Deus não é corruptível, já que, se o fosse, não seria Deus?"

"... reconhecia apenas em Cristo um homem completo: não só um corpo humano ou um corpo e uma alma sem mente, mas um homem real que eu julgava avantajar-se aos restantes mortais, não por ser a personalidade da Verdade, mas por motivo da grande excelência de sua natureza humana e de sua mais perfeita participação quanto à Sabedoria."

LIVRO VIII- A CONVERSÃO:

"São vãos, por certo, todos os homens em que não se acha a ciência de Deus, e que, pelos bens visíveis, não chegaram a conhecer Aquele que é."

"Portanto são as paredes da Igreja que nos fazem cristãos?"

"Até os próprios prazeres da vida humana não se apossam do coração do homem só por desgraças inesperadas e fortuitas, mas por moléstias previstas e voluntariamente procuradas. Não há prazer nenhum no comer e beber, se o incômodo da fome e da sede não o precede."

"Ai de mim! Quão alto sois nas alturas e quão profundo nos profundos abismos! Nunca Vos apartais de nós, e contudo, com que dificuldade nos voltamos para Vós!"

"Vós me colocáveis perante o meu rosto, para que visse como andava torpe, disforme, sujo, manchado e ulceroso. Via-me e horrorizava-me; mas não tinha por onde fugir."

"Não fiz o que incomparavelmente desejava muito mais, apesar de o poder fazer logo que quisesse, porque para o querer basta querer sinceramente."

"Sê surdo às tentações imundas dos teus membros na terra, para os mortificares. Narram-te deleites, mas estes não são segundo a lei do Senhor teu Deus."

LIVRO IX- O BATISMO:

"Vós, porém, Senhor bom e misericordioso, olhastes para a profundeza da minha morte e, com a Vossa direita, exauristes do fundo do meu coração o abismo de perversidade. E agora tudo era não querer aquilo que eu queria, e querer o que Vós queríeis."

"Vós sois esse Ente que não muda, em Vós está o descanso que faz esquecer todos os trabalhos, porque nenhum outro descanso existe senão Vós. Fora de Vós nem sequer posso adquirir outras muitas coisas que não são o que Vós sois. Mas Vós, Senhor, singularmente me destes a esperança."

 

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